terça-feira, 30 de agosto de 2011

Chama Crioula: O dia em que nasceu o Tradicionalismo

Pira da Pátria em Porto Alegre
     Há 60 anos, quase à meia-noite de 7 de setembro de 1947, uma façanha surpreendeu o Rio Grande do Sul. Um grupo de oito estudantes, liderados por João Carlos DÁvila Paixão Côrtes, teve a idéia de capturar uma fagulha da Pira da Pátria, em Porto Alegre, utilizando um cabo de vassoura com trapos enrolados na ponta.

     O improvisado gesto tornou-se épico: lançou as bases do Movimento Tradicionalista Gaúcho, que hoje se espalha pelo Brasil e já chega aos Estados Unidos, à Europa e à Ásia. Cavaleiros que atualmente percorrem o Estado transportando archotes com a Chama Crioula, enfrentando frio e chuva, são gratos ao pioneirismo de Paixão Côrtes e sua turma. Alunos do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, na Capital, eles sofreram vaias e zombarias naquele 1947. 
     
     Era ridículo andar de bombachas, também não convinha tomar chimarrão nas praças.Os oito desbravadores da Chama Crioula estavam no ardor dos seus 20 anos, eram saudosos do umbigo deixado no campo e, sobretudo, tiveram a sagacidade de notar que os hábitos e a cultura do Rio Grande do Sul poderiam ser exterminados. 

Paixão Cortes
     Naquele pós-II Guerra Mundial, a hegemonia norte-americana se infiltrava por meio de músicas, filmes, estilos e o modo de vida caubói. Para completar, a herança da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) inibia a valorização regionalista em nome da unidade brasileira.

     Paixão Côrtes e os sete companheiros perceberam a urgência de agir, e antes que fosse tarde. Organizaram um Departamento de Tradições Gaúchas (DTG) dentro do Colégio Julinho, estimulando concursos de danças, poesia, culinária, tertúlias e palestras. Embrião dos atuais Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), o DTG criou objetivos que até hoje vigoram. 

     É uma espécie de Constituição Crioula.Os oito bombachudos fizeram outras proezas, abismando os cerca de 350 mil moradores daquela Porto Alegre que já ganhava contornos de metrópole com edifícios, avenidas e o ronco dos automóveis. Ao salvarem o que parecia se perder nos galpões, transformaram o ano de 1947 em mais um documento de identidade dos rio-grandenses. 

    A Chama Crioula acendeu, há mais de seis décadas, o fervor em ser gaúcho.
 
(Fonte - REPORTAGEM DE ZERO HORA DO DIA 02-09-2007 )

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