Pira da Pátria em Porto Alegre |
Há 60 anos, quase à meia-noite de 7 de setembro de
1947, uma façanha surpreendeu o Rio Grande do Sul. Um grupo de oito estudantes, liderados por João Carlos DÁvila Paixão Côrtes, teve a idéia
de capturar uma fagulha da Pira da Pátria, em Porto Alegre, utilizando
um cabo de vassoura com trapos enrolados na ponta.
O improvisado gesto
tornou-se épico: lançou as bases do Movimento Tradicionalista Gaúcho,
que hoje se espalha pelo Brasil e já chega aos Estados Unidos, à Europa e
à Ásia. Cavaleiros que atualmente percorrem o Estado transportando
archotes com a Chama Crioula, enfrentando frio e chuva, são gratos ao
pioneirismo de Paixão Côrtes e sua turma. Alunos do Colégio Estadual
Júlio de Castilhos, na Capital, eles sofreram vaias e zombarias naquele
1947.
Era ridículo andar de bombachas, também não convinha tomar
chimarrão nas praças.Os oito desbravadores da Chama Crioula estavam no
ardor dos seus 20 anos, eram saudosos do umbigo deixado no campo e,
sobretudo, tiveram a sagacidade de notar que os hábitos e a cultura do
Rio Grande do Sul poderiam ser exterminados.
Paixão Cortes |
Naquele pós-II Guerra
Mundial, a hegemonia norte-americana se infiltrava por meio de músicas,
filmes, estilos e o modo de vida caubói. Para completar, a herança da
ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945) inibia a
valorização regionalista em nome da unidade brasileira.
Paixão Côrtes e
os sete companheiros perceberam a urgência de agir, e antes que fosse
tarde. Organizaram um Departamento de Tradições Gaúchas (DTG) dentro do
Colégio Julinho, estimulando concursos de danças, poesia, culinária,
tertúlias e palestras. Embrião dos atuais Centros de Tradições Gaúchas
(CTGs), o DTG criou objetivos que até hoje vigoram.
É uma espécie de
Constituição Crioula.Os oito bombachudos fizeram outras proezas,
abismando os cerca de 350 mil moradores daquela Porto Alegre que já
ganhava contornos de metrópole com edifícios, avenidas e o ronco dos
automóveis. Ao salvarem o que parecia se perder nos galpões,
transformaram o ano de 1947 em mais um documento de identidade dos
rio-grandenses.
A Chama Crioula acendeu, há mais de seis décadas, o fervor em
ser gaúcho.
(Fonte - REPORTAGEM DE ZERO HORA DO DIA 02-09-2007 )