terça-feira, 27 de julho de 2010

Bochincho (Uma das mais lindas poesias gaúchas)

A um bochincho - certa feita,
Fui chegando - de curioso,
Que o vicio - é que nem sarnoso,
nunca pára - nem se ajeita.
Baile de gente direita
Vi, de pronto, que não era,
Na noite de primavera
Gaguejava a voz dum tango
E eu sou louco por fandango
Que nem pinto por quireral.
Atei meu zaino - longito,
Num galho de guamirim,
Desde guri fui assim,
Não brinco nem facilito.
Em bruxas não acredito
'Pero - que las, las hay',
Sou da costa do Uruguai,
Meu velho pago querido
E por andar desprevenido
Há tanto guri sem pai.
No rancho de santa-fé,
De pau-a-pique barreado,
Num trancão de convidado
Me entreverei no banzé.
Chinaredo à bola-pé,
No ambiente fumacento,
Um candieiro, bem no centro,
Num lusco-fusco de aurora,
Pra quem chegava de fora
Pouco enxergava ali dentro!
Dei de mão numa tiangaça
Que me cruzou no costado
E já sai entreverado
Entre a poeira e a fumaça,
Oigalé china lindaça,
Morena de toda a crina,
Dessas da venta brasina,
Com cheiro de lechiguana
Que quando ergue uma pestana
Até a noite se ilumina.
Misto de diaba e de santa,
Com ares de quem é dona
E um gosto de temporona
Que traz água na garganta.
Eu me grudei na percanta
O mesmo que um carrapato
E o gaiteiro era um mulato
Que até dormindo tocava
E a gaita choramingava
Como namoro de gato!
A gaita velha gemia,
Ás vezes quase parava,
De repente se acordava
E num vanerão se perdia
E eu - contra a pele macia
Daquele corpo moreno,
Sentia o mundo pequeno,
Bombeando cheio de enlevo
Dois olhos - flores de trevo
Com respingos de sereno!
Mas o que é bom se termina
Cumpriu-se o velho ditado,
Eu que dançava, embalado,
Nos braços doces da china
Escutei - de relancina,
Uma espécie de relincho,
Era o dono do bochincho,
Meio oitavado num canto,
Que me olhava - com espanto,
Mais sério do que um capincho!
E foi ele que se veio,
Pois era dele a pinguancha,
Bufando e abrindo cancha
Como dono de rodeio.
Quis me partir pelo meio
Num talonaço de adaga
Que - se me pega - me estraga,
Chegou levantar um cisco,
Mas não é a toa - chomisco!
Que sou de São Luiz Gonzaga!
Meio na volta do braço
Consegui tirar o talho
E quase que me atrapalho
Porque havia pouco espaço,
Mas senti o calor do aço
E o calor do aço arde,
Me levantei - sem alarde,
Por causa do desaforo
E soltei meu marca touro
Num medonho buenas-tarde!
Tenho visto coisa feia,
Tenho visto judiaria,
Mas ainda hoje me arrepia
Lembrar aquela peleia,
Talvez quem ouça - não creia,
Mas vi brotar no pescoço,
Do índio do berro grosso
Como uma cinta vermelha
E desde o beiço até a orelha
Ficou relampeando o osso!
O índio era um índio touro,
Mas até touro se ajoelha,
Cortado do beiço a orelha
Amontoou-se como um couro
E aquilo foi um estouro,
Daqueles que dava medo,
Espantou-se o chinaredo
E amigos - foi uma zoada,
Parecia até uma eguada
Disparando num varzedo!
Não há quem pinte o retrato
Dum bochincho - quando estoura,
Tinidos de adaga - espora
E gritos de desacato.
Berros de quarenta e quatro
De cada canto da sala
E a velha gaita baguala
Num vanerão pacholento,
Fazendo acompanhamento
Do turumbamba de bala!
É china que se escabela,
Redemoinhando na porta
E chiru da guampa torta
Que vem direito à janela,
Gritando - de toda guela,
Num berreiro alucinante,
Índio que não se garante,
Vendo sangue - se apavora
E se manda - campo fora,
Levando tudo por diante!
Sou crente na divindade,
Morro quando Deus quiser,
Mas amigos - se eu disser,
Até periga a verdade,
Naquela barbaridade,
De chínaredo fugindo,
De grito e bala zunindo,
O gaiteiro - alheio a tudo,
Tocava um xote clinudo,
Já quase meio dormindo!
E a coisa ia indo assim,
Balanceei a situação,
- Já quase sem munição,
Todos atirando em mim.
Qual ia ser o meu fim,
Me dei conta - de repente,
Não vou ficar pra semente,
Mas gosto de andar no mundo,
Me esperavam na do fundo,
Saí na Porta da frente...
E dali ganhei o mato,
Abaixo de tiroteio
E inda escutava o floreio
Da cordeona do mulato
E, pra encurtar o relato,
Me bandeei pra o outro lado,
Cruzei o Uruguai, a nado,
Que o meu zaino era um capincho
E a história desse bochincho
Faz parte do meu passado!
E a china - essa pergunta me é feita
A cada vez que declamo
É uma coisa que reclamo
Porque não acho direita
Considero uma desfeita
Que compreender não consigo,
Eu, no medonho perigo
Duma situação brasina
Todos perguntam da china
E ninguém se importa comigo!
E a china - eu nunca mais vi
No meu gauderiar andejo,
Somente em sonhos a vejo
Em bárbaro frenesi.
Talvez ande - por aí,
No rodeio das alçadas,
Ou - talvez - nas madrugadas,
Seja uma estrela chirua
Dessas - que se banha nua
No espelho das aguadas!


Autoria: Jayme Caetano Braun

(Pagina do Gaucho - http://www.paginadogaucho.com.br/poes/jcb-boc.htm)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Grande Nome da Musica Gaucha Tradicionalista..!! - Joca Martins

Joca Martins

Há 23 anos nas estradas do nativismo JOCA MARTINS atualmente é considerado um dos maiores nomes da música gaúcha. Foi trilhando as estradas do Rio Grande do Sul desde 1986, entre festivais e apresentações, que conquistou diversas premiações. Entre elas se destacam o “Troféu Vitor Mateus Teixeira - Teixeirinha de Melhor Cantor em 2004” e dois Discos de Ouro. Um deles pelo disco "O Cavalo Crioulo" e outro pelo CD "Clássicos da Terra Gaúcha”.
O ano de 2010 traz muitas novidades na carreira deste músico, que canta em prosa e verso a valorização da nossa terra. Atualmente finaliza, em Porto Alegre/RS, o DVD “O Cavalo Crioulo ”, com produção da BR Filmes,gravado na Estância da Carapuça. Um trabalho de primeira linha, que será lançado no primeiro semestre de 2010.
Aí que eu me refiro!




(Joca Martins - http://www.jocamartins.com/)
(Youtube - http://www.youtube.com/watch?v=zR3bEI5oVcw)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Lenço Gaucho..!!

Os bandeirantes usaram lenço à cabeça, bem como os gaúchos e os índios minuanos. Estes usavam um lenço dobrado passado ao redor da cabeça.


O termo vincha não foi mencionado na área brasileira. Entre os castelhanos, era uma cinta, faixa de tecido “pampa”, tira de couro, ou um lenço dobrado com que os “índios e paisanos” sujeitavam os cabelos.


Atualmente, só usam a “vincha” os domadores.


O lenço ao pescoço é de introdução européia e de uso em vários países sul-americanos: Bolívia, Argentina, Uruguai e Brasil.


Há vários tipos de nós, havendo alguns de simbolismo político, como o Republicano composto de dois topes e uma “rapadura” ao centro (vermelho 1835).


No anuário do Rio Grande do Sul de Graciano de Azambuja (1892 pág.160), há informes sobre o nó republicano. Sua colocação, a do lenço à cabeça é explicada por Augusto Meyer: “... o engenhoso laço feito com as pontas de grande lenço vermelho, que recobre a cabeça, caindo em pontas sobre as costas, e com as outras pontas atava-se um complicado nó de gravata pendendo sobre o peito”.


Paixão Côrtes em “O Gaúcho, Danças, Trajes, Artesanato” faz descrição minuciosa sobre os diferentes nós de lenços. Os mais conhecidos são: nó de correr ou de namorado, nó de três galhos, rapadura, nó republicano, nó de ginete, nó comum.


Quanto às cores, houve tempo em que elas significavam partidos

políticos:

Chimango (ala radical do Partido Liberal no I e II Impérios) cor

branco.

Maragato (partidários do parlamentarismo defendido por Gaspar

Silveira Martins - Revolução Federalista de 1893, posteriormente Partido Libertador) cor vermelha.


A origem da palavra Maragato vem do Uruguai; o chefe gasparista


Gumercindo Saraiva procedia do departamento de San José (da Banda Oriental), colonizado por espanhóis procedentes da Maragateria de Espanha.


O lenço usado “a meia espádua”, imita a antiga charpa de uso na Europa que, aqui no Brasil, foi utilizada pelos bandeirantes.


Os campeiros da região serrana do Estado do Rio Grande do Sul usavam lenço como escoteiros com a ponta caída às costas. Não só de uma cor lisa, mas também de xadrez miúdo.


É de uso comum entre gaúchos uma presilha em forma de anel (muitas vezes a própria aliança), para prender o lenço, substituindo assim, o nó. O material usado para isto varia: chifre, osso da canela de avestruz, metal, couro, ouro e prata.


DIAGRAMAS







sexta-feira, 9 de julho de 2010

Os 10 Mandamentos do Chimarrão


01 - NÃO PEÇAS AÇÚCAR NO MATE

02 - NÃO DIGAS QUE O CHIMARRÃO É
ANTI-HIGIÊNICO

03 - NÃO DIGAS QUE O MATE ESTÁ QUENTE DEMAIS

04 - NÃO DEIXES UM MATE PELA METADE


05 - NÃO TE ENVERGONHES DO “RONCO” NO FIM DO MATE

06 - NÃO MEXAS NA
BOMBA

07 - NÃO ALTERES A ORDEM EM QUE O MATE
É SERVIDO

08 - NÃO DURMAS COM
A CUIA NA MÃO

09 - NÃO CONDENES O
DONO DA CASA POR TOMAR O PRIMEIRO MATE

10 - NÃO DIGAS QUE O
CHIMARRÃO DÁ CÂNCER NA GARGANTA

(Escola do Chimarrão - http://www.escoladochimarrao.com.br/index.php)

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Gaita Gaucha..!!

A Rainha do Fandango é natural da cidade de Bento Gonçalves. E começou a nascer formalmente no dia 28 de abril de 1939, da linha de produção de uma fábrica que recebeu o nome de Todeschini e Cia. Ltda. É claro que isso só aconteceu depois de elas terem passado por uma fase de artesanato caseiro, pelas mãos do mesmo Luis Matheus Todeschini que fundou a empresa.

(Seu Luis teve quatro filhos, mas nenhum deles interessou-se pela fabricação de gaitas).

Em 1947 surgiu a Acordeões Todeschini S/A.

Em 1965 - 17 anos depois da fundação do MTG - a empresa já exportava seus produtos para a Argentina, Chile, Venezuela, Méxio e Estados Unidos. Mas começou a enfrentar uma série crise nas vendas internas.O Brasil havia entrado na era dos instrumentos elétricos e as pesquisas mundiais na indústria eletrônica avançavam em velocidade de linguagem binária sobre a área da música. A estridência do som de guitarras elétricas e tecladeiras eletrônicas conquistava uma geração que, disposta a mudar a própria ordem do universo, precisava de volume suficiente para que sua mensagem fosse ouvida acima de qualquer outro som. Os instrumentos acústicos entraram em baixa no gosto da grande massa de consumidores da música: a juventude. Foi por esta época que a Todeschini, na tentativa de ganhar fôlego, voltou-se para um mercado menos sujeito à ondas, modismos e sazonalidades: o mercado de móveis. O ano era 1968.

Em 1971, a empresa estava em franco desenvolvimento, assim como toda a indústria moveleira que florescia em Bento Gonçalves.

Incêndio na sexta-feira, 13 de agosto

"... ocupava uma área própria construída de 14.000 m2. 470 operários produziam em média, mensalmente, 700 acordeões e 3.000 unidades de móveis diversos." Esta a descrição da fábrica feita em matéria na edição número 1 da Revista Gaúcha, que Adelar Bertussi e Adelar Neves publicaram durante os anos 70. O texto descrevia o incêndio que, na sexta-feira, 13 de agosto de 1971, atingiu a Todeschini. O fogo ardeu durante durante dois dias e destruiu completamente as instalações da fábrica.

Mas, já no dia 15 de outubro, a empresa ressurgiu das cinzas, sob a denominação de Todeschini S.A. - Indústria e Comércio, com cerca de 250 acionistas - a maioria deles, os próprios operários da fábrica.

Menos de três anos após aquela sinistra sexta-feira, 13, as novas instalações haviam de novo alcançado 11.000 m2 de área construída e abrigavam 350 operários. Mas a fabricação de móveis havia sido drasticamente aumentada para 8.000 peças mensais, contra uma violenta redução na produção das famosas gaitas: apenas 300 instrumentos/mês.

Boa parte delas saiam de Bento Gonçalves diretamente para completar o abastecimento do mercado europeu de outra marca mundialmente conceituada: Honer.

Honeyde e Adelar Bertussi eram os únicos músicos consultores da linha de produção. Eles passavam com frequência pela fábrica, onde experimentavam as gaitas prontas, conferiam os resultados e sugeriam eventuais modificações. "Os instrumentos eram fabricados de acordo com as orientações dos irmãos Bertussi", testemunha lvo Bondam, uma autoridade no assunto: ele entrou para a Todeschini aos 13 anos de idade e lá trabalhou durante 46 anos.

Para cada instrumento finalizado, eram montadas nada menos do que 3.856 peças - todas elas produzidas dentro da própria fábrica, muitas delas de mínimo tamanho, exigindo rara precisão e pessoal com alta especialização prática. (Especialização esta, frise-se, sem muitas oportunidades de transmissão, para a necessária formação de novos profissionais.) Todas as gaitas Todeschini são numeradas. E trazem gravado na madeira, internamente, a data de fabricação.

Não tardou muito para que a fabricação da gaita se tornasse uma espécie de incômodo empresarial, pois o contexto de uma nova ordem econômica, com forte tendência para a automação de tarefas, já mostrava seu brilho intenso no horizonte matutino de um país emergente.

Em 1976, ao decidir parar em definitivo com a produção de gaitas, a direção da empresa negociou com alguns funcionários a manutenção de um serviço de assistência técnica. E transferiu para eles todo o estoque de peças prontas. O serviço funciona até hoje, nos fundos da residência de Danilo Arcari, em Bento Gonçalves mesmo, e tomou-se famoso no Brasil inteiro.

Danilo Arcari e Lourival Cosme, tem 56 anos de idade e tinham 40 anos de Acordeões Todeschini, quando a produção parou. lvo Bondan tem 59 de idade. Os três lideram a equipe de nove pessoas que assumiu a nobre missão de manter ligados os tubos da UTI das Rainhas do Fandango: Alba Fin (55), Zemiro Zallmmena (56), Deusines Maso (65), Auri Ranzzi (65), Elis Raquelli (70) e Biogio Vaccaro (73). Entre os nove, são 555 anos de idade, e mais de três séculos de experiência na gaita gaúcha!

Cronologia do Acordeon Todeschini 1906- 2010

1906 - Nasce o fundador Luiz Matheus Todeschini na cidade de Alfredo Chaves-RS.
1914 - A família Todeschini muda-se para Bento Gonçalves.
1932 - É fundada a “Grande Fábrica de Instrumentos Musicaes a Foles de Luiz M. Todeschini”.
1939 - A empresa é transformada para “Todeschini e Cia Ltda”.

1947 - A empresa é transformada em “AcordeõesTodeschini SA”.
1971 - Um grande incêndio destrói mais da metade da fábrica.
1973 – É interrompida em definitivo a produção de acordeões. Até esta data foram produzidos mais de 170.000 Acordeões. Danilo Arcari assume a manutenção dos acordeões.

1999- Em Porto Alegre, Mano Monteiro começa a fazer manutenção de acordeões em geral, dedicando-se principalmente a linha Todeschini.
2001- Cria a Estojo & Cia - Acessórios e Manutenção. Começa a confecção de acessórios para acordeon além dos consertos.
2005 – Sentindo grande dificuldade na manutenção, Mano Monteiro começa a produção artesanal de peças Todeschini para reposição e revenda.
2008- Mano Monteiro solicita a propriedade da marca Todeschicni, e assim é criada a P.R.Monteiro.
2009 – Em Porto alegre Mano Monteiro diretor admisnistrativo da P.R. Monteiro, retoma a produção do Acordeon Todeschini em parceria com a italiana Giulietti Acordeões.
2010- Como sub marca é criada a doble m, passando a fazer parte do projeto Todeschini.
2010- Em 31 de março é lançado oficialmente o Acordeon Todeschini

(Pagina do Gaucho - www.paginadogaucho.com.br)

(Acordeon Todeschini - www.acordeontodeschini.com.br)