quarta-feira, 27 de abril de 2011

Humor do Tacho no Jornal NH


O Comportamento do Gaúcho

 

Paul Rivet (o importante antropólogo francês do século passado, fundador do Museu do Homem e estudioso dos povos da América Latina) levantou uma publicação de 1833, do jornal "Le National", Paris, com várias informações sobre o gaúcho, entre as quais: "Sua fala é enérgica, rápida e irregular; falam com fogosidade e grande facilidade; são imaginativos de espírito vivaz e apaixonados. Entre eles, quem sabe montar, laçar, atirar a boleadeira e manejar uma faca, está completo. ( ) são improvisadores, vivendo as expensas das inextinguíveis tropas de gado cuja carne é a base de sua alimentação. Muitos jamais comeram pão. Sua calma habitual cede lugar a um ardor indomável quando o fogo de suas paixões se acende, o que não é raro. O sentido de independência e amor a pátria, por exemplo se manifestaram mais de uma vez entre estas gentes grosseiras de alma heróica. Quando estoura uma guerra, este povo pastoril e pacífico se volve, de golpe, em um exército de terríveis guerreiros. Seu gosto pelo baile e música mostra igualmente, que sua sensibilidade é susceptível de grande exaltação. O Gaúcho é bravo por temperamento, mas sua bravura é animal(..). São capazes (..) dos mais formosos atos de devoção e sacrifício pessoal pela causa que abraçaram. Em suas brigas, em que o jogo é a causa mais habitual, estão sempre prontos a degolar-se. À menor provocação, sacam a faca e corre sangue".

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Os Primeiros Imigrantes


     Em 1740 chegou à região do atual Rio Grande do Sul o primeiro grupo organizado de povoadores. Vindos da ilha dos Açores, contavam com o apoio oficial do governo, que pretendia que se instalassem na vasta área onde anteriormente estavam situadas as Missões. 

     Mas as dificuldades de transporte fizeram com que terminassem por se fixar na área onde hoje está Porto Alegre, a capital do Estado. Praticando a agricultura de pequena propriedade, não encontraram, em um território em que cada estância funcionava como uma célula independente, mercado para seus produtos, e terminaram por se integrar à economia voltada para a pecuária.

     Posteriormente, em 1780, um fato iria reforçar ainda mais o caráter rural da vida do atual Estado. Foi criada a primeira charqueada comercial em Pelotas. Aos poucos, o charque se tornou o principal produto de exportação do Rio Grande, sendo enviado para as demais regiões do país. 



     Essa situação começou a ser modificada no início do século XIX. A estrutura econômica do Brasil de então se baseava na exportação dos produtos agrícolas plantados em grandes propriedades por trabalhadores escravos. O Rio Grande fornecia o charque para esses trabalhadores, e também para os moradores pobres das grandes cidades. Mas, a partir da década de vinte do século passado, o governo brasileiro resolveu estimular a vinda de imigrantes europeus, para formar uma camada social de homens livres que tivessem habilitação profissional, e pudessem oferecer ao país os produtos que até então tinham que ser importados, ou que eram produzidos em escala mínima. Isto significa que o governo queria trazer pequenos produtores, para fornecer alimentos para as cidades, e artesãos. 

     A idéia, apoiada por alguns, era rejeitada pelos senhores de escravos, que temiam que os trabalhadores livres "fossem um mau exemplo", demonstrando que o trabalho pago produzia mais e melhor que o escravo. Moradores de regiões mais ao norte do país, os grandes senhores de escravos conseguiram impedir que os imigrantes fossem destinados às suas regiões. Por isto, o governo terminou por levá-los para o Rio Grande do Sul, que estava situado à margem do grande eixo econômico, no centro do país. 

     Os primeiros imigrantes que chegaram foram os alemães, em 1824. Eles foram assentados em glebas de terra situadas nas proximidades da capital gaúcha. E, em pouco tempo, começaram a mudar o perfil da economia do atual Estado.

     Primeiramente, introduziram o artesanato em uma escala que, até então, nunca fora praticada. Depois, estabeleceram laços comerciais com seus países de origem, que terminaram por beneficiar o Rio Grande. Pela primeira vez havia, no país, uma região em que predominavam os homens livres, que viviam de seu trabalho, e não da exploração do trabalho alheio.
 
      As levas de imigrantes se sucederam, e aos poucos transformaram o perfil do Rio Grande. Trouxeram a agricultura de pequena propriedade e o artesanato. Através dessas atividades, consolidaram um mercado interno e desenvolveram a camada média da população. E, embora o poder político ainda fosse detido pelos grandes senhores das estâncias e charqueadas, o poder econômico dos imigrantes foi, aos poucos, se consolidando.
 
(RS Virtual - http://www.riogrande.com.br/rio_grande_do_sul_informacoes_gerais_os_primeiros_imigrantes-o3158-en.html)

terça-feira, 12 de abril de 2011

HISTÓRIA DO TROPEIRISMO


     O Tropeirismo (condução de animais soltos ou de mercadorias em lombos de animais arriados) foi um ciclo da maior importância para a economia e a fixação do homem no interior do Brasil, quiçá tão importante quanto foram os ciclos do café, da cana-de-açúcar, do ouro, da borracha e outros.
 
      Foram as Reduções Jesuíticas que provocaram as primeiras atividades tropeiras no Sul da América. Os padres incentivaram os primeiros transportes em lombos de mulas entre os vários povoados missioneiros. E foram também os missioneiros os descobridores dos passos de travessia dos rios, principal obstáculo a essa atividade. Devem-se aos missioneiros a descoberta, por exemplo, do passos de Yapeyú, Mbororé e outros mais nos rios Uruguai, Iguaçu e outros, que serviram mais tarde aos tropeiros de origem lusa.
 
     De 1860 em diante, quando os lagunenses passaram a penetrar nos territórios ocupados pelos missioneiros no Rio Grande do Sul, o gado abundantemente aí existente passou a ser trazido para Laguna, de onde depois de abatido, a parte não consumida localmente era enviada para São Vicente e Lisboa, em forma de charque. Por esta época, a Colônia do Santíssimo Sacramento passou a ocupar espaço como centro de comércio, notadamente de contrabando, em reação ao rigor da coroa, da qual dependiam todas as atividades mercantis.

A história registra os seguintes nomes como principais tropeiros:

Francisco de Souza Faria (1717) - o pioneiro
Cristóvão Pereira de Abreu (1735) - o patriarca
João José de Barros (1808) - o paulista
José Pacheco de Carvalho (sem data) - da Lapa
Joaquim José de Almeida Taques, José Joaquim de Almeida Taques, Francisco de Macedo Taques (sem data) - todos de Castro
José Joaquim de Andrade (sem data) - de Sorocaba
Dr. Olivério Pillar (1875) - de Cruz Alta
Joaquim Antonio Pedroso (1856) - de Sorocaba
Maneco Pinto, José Antonio Rodrigues, Felipe Alves Machado, João da Silva e seu pai Potiguara do Prado (sem data) - todos de Carazinho
Manoel Gomes de Moraes ou Maneco Biriva (sem data) - de Júlio de Castilhos
João Ferreira Amado (sem data) - de Palmeira das Missões
Augusto Loureiro Lima, vulgo Duque (sem data) - de Porto Alegre
Maneco Bento, capataz de Pinheiro Machado e este (1898-1915) - de Cruz Alta.

(PORTAL AMIGOS DA TRADIÇÃO - http://www.portalgaucho.com.br/ )

terça-feira, 5 de abril de 2011

Mitos Gaúchos


A Bruxa

     O mito da Bruxa é tão antigo como atual no Rio Grande do Sul. De forma geral, acredita-se que a sétima filha mulher de um casal será bruxa, a menos que seja batizada pela irmã mais velha. 
     
     Ao contrário do Lobisomem, a Bruxa é uma pessoa má, que faz o mal e gosta disso. Suas vítimas são sempre crianças, bichos pequenos ou lavouras em crescimento, porque ela não tem capacidade para fazer mal às pessoas adultas, aos animais grandes e às plantas crescidas. Sua grande arma é o olho grande, que bota onde quer fazer o mal. Bichos embruxados, como ninhadas de pintos ou leitões, mirram e morrem. Lavouras murcham da mesma maneira. E crianças embruxadas ficam amarelas, minguam a olhos vistos e quando ficam nuazinhas, desenroladas das fraldas, cruzam os bracinhos e as perninhas. E assim, se não forem atendidas a tempo, morrem mesmo. 
     
     A bruxa é acusada de chupar o umbigo recém caído dos nenês. O melhor para afastar a Bruxa é uma figa, ou um chifre de boi ou um galho de arruda. Por isso, o primeiro presente que se deve dar ao bebê é uma figuinha de ouro, que ele deve Ter sempre na sua roupinha, junto ao corpo. Na porta da frente da casa, é recomendável se pendurar pelo menos um chifre, com galhos de arruda dentro e de preferência com extremidade inferiro esculpidas em forma de figa. No jardim, as pessoas devem sempre plantar arruda, cujo cheiro a Bruxa abomina. 

     Para se descobrir uma bruxa, tiram-se todos os móveis da cala da casa e aí, bem no meio, a dona da casa deve repetir três vezes, bem alto, o nome da mulher que ela acha que é bruxa e que é vizinha ou está por perto. Daí a pouco, se essa mulher é mesmo Bruxa, vai aparecer e perguntar, fingindo inocência: "A senhora me chamou, vizinha?" Ou então, pega uma peça de roupa da criança que está embruxada, para socar num pilão cravejada com alfinetes. Se aparecer uma mulher nas vizinhanças, com dores terríveis, ela é a Bruxa. Uma criança embruxada é facilmente reconhecível, pelos sintomas já descritos e é facilmente curável. Durante três sextas-feiras, no começo da manhã e no fim da tarde, uma pessoa de fé deve ascender duas velas na cama da criança embruxada, uma na cabeceira e outra nos pés e rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria até as velas se queimarem por inteiro. Ao fim das três semanas, a criança desembuxa mesmo.

O DIABO

     No mundo cristão, o Diabo aparece como a antítese de Deus, quase o seu alter-ego, a própria dialética da divindade. O gaúcho acredita firmemente no Diabo, tanto como acredita em Deus. De uma maneira geral, ele é visto como um anjo chamado Rafael, muito capaz e muito invejoso. Tão alto subiu, que quis se igualar a Deus e por isso foi precipitado nas profundezas do inferno. Tal capacidade do Diabo aparece numa das variantes da lenda da criação do Homem e da Mulher, por exemplo.

O LOBISOMEM

     Parece incrível, mas é verdade: às vésperas do Século XXI, o Rio Grande do Sul inteiro acredita firmemente em Lobisomem, do mais remoto rincão campeiro às cidades mais cosmopolitas, do ínvio recesso das matas às mais bulhentas praias do Atlântico Sul. 
     
     O mito Lobisomem é basicamente a crença em que determinados homens - sempre homens! - em determinadas circunstâncias podem se transformar em um monstro meio-lobo e meio-homem. O mito no Rio Grande do Sul sustenta que o sétimo filho homem de uma família será fatalmente o Lobisomem - a menos que seja batizado pelo irmão mais velho. 

     Há, também, forma folclórica de se transmitir o fado: quando um velho Lobisomem sente que vai morrer, ele fica sofrendo muito até passar o encargo a alguém mais moço. E não consegue morrer antes disso. Se tiver algum guri ou moço por perto, ele pergunta, simplesmente: "Tu queres?". O ingênuo normalmente acredita que se trata de algum presente, ou mesmo de herança e então responde: "Sim". Aí, o velho morre feliz, porque transmitiu o fado, conforme se expressa a linguagem popular. O homem que tem o fado do Lobisomem é sempre de raça branca, pelo - duro (ou seja, não há Lobisomem negro, alemão ou gringo), magro, de olhos no fundo, dentes salientes e cara de cor amarelada, muito pálido. Quase sempre mora sozinho. Mais raramente, vive com a mãe, uma velha muito estranha. Mais raramente ainda é casado e a mulher ignora o fato. Mora sempre em um rancho o mais isolado possível, obrigatoriamente com um galinheiro nos fundos. Se o próprio rancho não tem galinheiro, tem que haver um, por perto. 
     
     O fado do Lobisomem é uma cruz que ele carrega. Não fazendo mal a ninguém, ele é mais uma vítima do que um carrasco. Se é atacado, reage. E morde cachorros e até pessoas. Mas, se puder evitar isso, ele evita. Simplesmente o Lobisomem tem que cumprir o seu fado, que é comer nas sextas-feiras de lua cheia, da meia-noite até o clarear do dia, descrevendo um grande rodeio. À meia-noite ele se rebolca nos sujos das galinhas, rolando no chão e se transforma. Aí, corre a noite inteira, fazendo uma grande volta. 

     Quando o sol vai nascer, ele já está de regresso ao ponto de partida. Rebolca-se de novo no galinheiro e aí vira gente, outra vez. 

O SANGUANEL

     O Sanguanel é um mito da região ítalo-gaúcha, cuja crença é muito viva, ainda no presente. Ele é um ser pequeno, vivo, de cor vermelha que, a rigor, não faz mal pra ninguém, mas dá cada susto! Ele vive pelos pinheirais da serra e seu prazer é roubar crianças, as quais escondem no alto das árvores ou no meio das reboleiras do mato. Mas não judia delas. Pelo contrário, até traz mel numa folha e água, se tem sede. 

     Os pais, como loucos, procuram as crianças roubadas pelo Sanguanel estão sempre em estado de sonolência, lembrando pouco e mal das coisas que aconteceram, emobra não esqueçam a figura vermelha do Sanguanel, o ninho em cima de um pinheiro e o mel trazido numa folha. Mais raramente o Sanguanel se envolve com adultos. Nesses casos, assume o papel de vingador engraçado, fazendo picardias e provocações aos preguiçosos, bêbados ou não religiosos, mas tudo sem maldade.